quarta-feira, 29 de abril de 2015

Ela venceu no amor


Ela sempre foi demais para ele. De verdade. Não pela beleza, embora ela fosse verdadeiramente linda. Mas é que ela nunca se vendeu pro carrão dele, nem para os bíceps do “projeto verão” que ele cultivava com um cuidado repugnante. Ela jamais se vendeu como as moças que se atraíam pela superficialidade dele. Ela enxergou além, ela se apaixonou pelas qualidades que ele não tinha.

Ela se orgulhava de ter sido escolhida pelo cara mais cobiçado do bairro. Ela sorria diante das declarações de amor recheadas de falsidade e de erros de gramática, ela se sentia especial. Ela se sentia em um conto de fadas e ele não conseguia ser sequer um sapo. Mas, coitada, a paixão tem dessas coisas.
Era triste ver uns olhos tão cheios de verdade imersos na superficialidade de um príncipe metido e de pau, provavelmente, muito pequeno – e digo príncipe no pior dos sentidos que pode ser atribuído à palavra.
Ele saía nas noites de sexta rodeado de biscates, mas ela se contentava com as segundas-feiras em sua companhia. Ela não via o quanto ela merecia mais. Ela era tão mulher pra aquele menino que nunca virou homem. Ela tinha um sorriso tão largo, mas toda aquela falta de amor quase o apagou. Quase.
Ela esqueceu. Doeu, e provavelmente ela pensou que não suportaria. Porque, você sabe, dói mesmo. Mesmo quando a gente sabe que não tem que ser, dói. Mas passa. E pra ela passou. Ninguém lia a sua dor no seu olhar – por que ele jamais perdeu o brilho. Ela guardou aquela dor tão bem guardada que, num belo dia, nem mesmo ela a encontrou.
Ela amou um idiota – mas, quem nunca? O importante é que ela não deixou que ele levasse nenhum pedacinho dela embora. Ele veio e passou, como uma tempestade que ensina a gente a ser mais forte.
Está mais linda do que nunca. Linda, viajada e bem amada. E o melhor disso tudo é que ela não faz questão de mostrar isso pra ele e nem pra ninguém – mas essas coisas a gente percebe no olhar, né? Quem a via de mãos dadas com um cara tão desprezível não imaginava que ela fosse tão mulher, mas ela provou que é.
Ele continua com as piores companhias possíveis. Sorrindo superficialmente, amando superficialmente, vivendo superficialmente. Até ele entendeu que não merecia tanto
Ela não se boicotou, enxugou as lágrimas e tratou de ser feliz como merecia. Foi em frente, de forma leve. Por que, além do que seus olhos poderiam ver naquele momento, havia algo – e alguém – melhor. E ela sabia. Por isso, ela venceu. Ela passou e deixou marcas, porque uma mulher de verdade sempre marca. E ele… Bem, ele só passou.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Carta aberta ao meu amor que ainda não chegou

Eu já passei da fase de idealizar alguém, de criar histórias improváveis e nunca tive muita paciência pra filmes de romance. Mas confesso que hoje senti saudade. E não é saudade do que já aconteceu, é do que eu gostaria que tivesse acontecido. Não é saudade de momentos que guardo na memória, é dos que eu não vivi até agora. Não é saudade de alguém que veio e foi, é de quem ainda nem apareceu.

Tá, eu sei que é estranho pensar em alguém que não se conhece. E, pasme, talvez nem exista. Pode ser que sim, pode ser que não. Eu não sei. Porém eu penso, sim, em você às vezes. Confesso.

Essa noite, eu gostaria que você estivesse aqui pra gente ter uma conversa. Sim. Você mesmo, que eu não sei o nome, a cor do cabelo e nem o número do telefone. Queria te contar sobre as fases que eu duvidei da sua existência, as que eu realmente quis que você não existisse, as que te confundi com outro alguém e as que eu torci para que você não demorasse tanto para aparecer.

Queria dizer que eu vivo bem sem você, que estou muito feliz, que aprendi a ser sozinha, que adorei descobrir a sensação de não ter que dar explicações a ninguém nunca e que vai ser difícil me acostumar novamente a dividir a sobremesa. Mas confesso que, de vez em quando, eu sinto, sim, a sua falta. E não é de hoje.

Eu senti sua falta nas vezes em que saí e vi milhões de caras iguais. O mesmo estilo de roupas, cortes de cabelo parecidos, atitudes semelhantes e papos praticamente idênticos. Sim, porque eu nunca te vi, mas sei que você é diferente deles. Eu senti sua falta quando conhecia alguém que parecia se parecer com você, mas, no final, não tinha nada a ver. Certamente, porque embora eu não te conheça, sei que um completo idiota você não é. Eu senti sua falta quando o Nando Reis cantou "All Star". Previsível, porque me dei conta que o som que eu ouço não são as gírias do seu vocabulário.

Eu senti sua falta quando vi aquele casal de velhinhos sorrindo e de mãos dadas na praia. Evidente, porque já que está demorando, eu espero mesmo que viva bastante tempo pra compensar.

E hoje eu também senti sua falta. E escrevi porque eu tenho certeza que, caso exista, você me fará muito bem, virá com tanto, que somado ao meu muito irá transbordar. Sei que será a pessoa para eu desmoronar quando o vento for forte e me sentir vulnerável e pra jogar no sofá quando a vontade for grande demais pra chegarmos até o quarto. Sei que será a pessoa que me mostrará diversos caminhos, diferentes atalhos, novos pensamentos e que ficará quando todo o resto for embora.

E é por isso que sinto tua falta. Porque sei que será a pessoa que um dia irá ler esse texto comigo, perceber que também sentiu essa saudade e dizer: Meu bem, não se preocupe, nós temos o resto da vida para matá-la.